Recentemente me deparei com um jogo novo, lançado na Steam, muito peculiar. Joguei-o por algum tempo, e agora fico pensando se há algum significado naquele jogo ou se o significado dele é justamente fazer você pensar no significado. Como pode perceber, “The Stanley’s Parable” é um jogo cheio de contradições que criam mais contradições, resultando, inesperadamente, em uma obra de arte.
“The Stanley’s Parable” foi criado originalmente como um mod de half-life por Davey Wreden, mas justamente pela qualidade de seu projeto, Davey recebeu propostas para a criação de um stand-alone, logo depois do lançamento original. Este passou pela Steam Greenlight e agora está na Steam pelo preço de $11.99, incluindo um desconto de 20%.
O jogo é feito em primeira pessoa, e sua interface gráfica é extremamente simples. Você só pode andar e interagir com os objetos. Aqui você não irá lutar contra monstros, distribuir habilidades, resolver puzzles genéricos ou participar de qualquer outra coisa que teria papel em outro jogo qualquer. Tudo o que você faz aqui é tomar escolhas e presenciar eventos causados por estas. Aqui não há sensação, mesmo que camuflada em meio a efeitos gráficos e sonoros de última geração, de que você está seguindo um caminho pré-determinado por alguém antes de você. A sensação é a de que você é que está escrevendo a história, e de que as possibilidades são infinitas.
O jogo é curtíssimo, e isto abre a possibilidade de inúmeros finais, que apresentam fatos que contradizem uns aos outros. Dessa forma fica ao seu cargo decidir qual é o final que considera mais verdadeiro, ou decidir que nenhum deles é verossimilhante o bastante para você. Os únicos personagens são Stanley e o Narrador. Este último consegue se inserir tão ativamente na história através de suas falas que acaba por ser considerado um personagem também. Ele não possui corpo físico e nem aparece graficamente durante o decorrer do jogo, mas ele tem um carisma inacreditável, e consegue igualmente fazer você odiá-lo profundamente de acordo com suas escolhas. Ele desempenha o papel de roteirista, dizendo a você o que deveria fazer. E é claro, em “The Stanley’s Parable” você nunca faz o que ele pede, porque isso é simplesmente entediante, e levará você para um final completamente insatisfatório. O que você faz é exatamente o contrário do que ele pede e isso causa a sua fúria, demonstrada através de insultos e modificações no cenário.
O jogo cumpre seu papel como tal e cala as vozes dos que dizem que “jogo não é arte”, quebrando de maneira sensacional a “quarta parede do meio artístico”. A quarta parede é o termo designado à película imaginária que separa a plateia da obra artística, causando o efeito de alienação e fazendo as pessoas esquecerem por breves momentos de que aquilo tudo é falso. Em “The Stanley’s Parable” o narrador fala diretamente com você, e aponta inclusive as características que indicam que aquele mundo é falso, e que você não tem capacidade alguma de mudar o desenrolar dos fatos. E ao contrário do que se parece, isso não faz com que você perca seu entusiasmo, pelo contrário, faz você se revoltar e fazer tudo o que puder para mudar o curso daquilo. E você consegue.
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